terça-feira, 25 de setembro de 2012

"Sexta-Feira 13"(1980) - Sean S. Cunningham



  
 
Antes de Tobe Hooper surgir com "O Massacre da Serra Elétrica"(1974) e Carpenter sonhar em dirigir "Halloween"(1978),Cunningham dirigia sexploitation e filmes com característica lixão.Em 1972 ele produziu "Aniversário Macabro",dirigido pelo amigo Wes Craven,e que dentre todas aquelas produções seria a única a realmente apresentar uma mensagem irônica em relação à decadente filosofia hippie defronte da crueza dos anos 70."Aniversário Macabro" está entre aqueles filmes representantes de uma época,um abridor de portas para o terror real escondido por trás de libertárias canções folk
Apesar disso,foi obviamente o sucesso do filme de Carpenter que o levou a querer a criar uma montanha-russa de horrores seguindo o mesmo molde de serial killer.Enquanto "Halloween" criava algo novo usando um balde de referências que ia de "Psicose" à trilha sonora de "O Exorcista","Sexta Feira 13" usa o próprio "Halloween" como referência,principalmente com "Psicose"(de novo!),"Tubarão", "Carrie" e o giallo italiano.

A introdução já é uma homenagem ao filme de Carpenter,com a manjada câmera subjetiva mostrando um crime do assassino.Mas é com "Psicose" que o roteirista de novelas Victor Miller brinca mais,subvertendo os elementos mais memoráveis do filme de Hitchcock.O filme começa acompanhando uma estudante que vai descolar um bico no acampamento que falsamente parecer ser a personagem principal para logo ser eliminada...como a Marion Crane de Janet Leigh.Dessa vez não é o filho que incorpora a personalidade da mãe morta,mas é a própria mãe que busca vingança pela morte de seu filho Jason que morreu afogado no lago do camping Crystal Lake no qual ela trabalhava como cozinheira.E é aí que entra um dos maiores paradoxos da cultura pop.Aquele psicopata de máscara de hoquei que sai matando com um facão ja nasceu morto,e simplesmente inexiste na mente criadora da série em seu primeiro filme,tanto na de Cunningham quanto na de Miller,ressucitado em filmes seguintes como uma ferramenta caça-níquel.Claro que existe o horripilante gancho-final derivativo de "Carrie",mas foi uma idéia de Tom Savini,o maquiador de Romero que se esbalda em sua arte de extrair efeitos de horror que podem te fazer rir como gritar,e que acabou sendo o verdadeiro responsável pela materialização de Jason.
O que justamente acaba enfraquecendo o filme e que deveria ser seu momento mais forte é a revelação do vilão,a atuação de Betsy Palmer que tinha aceitado o papel para poder pagar contas,e que se revela uma senhora frágil demais apesar de insana,e incapaz de cometer assassínios tão musculosos.Por isso que eu afirmo que "Sexta-Feira 13" é bom só até a aparição de Palmer,que se salva pelos closes nervosos que Cunningham dá em sua boca escancarada.

Mas o que faz o filme ser bom além de divertido?Primeiro é a forma como o diretor conduz o suspense,que está longe de insultar a inteligência.Arrisco dizer que ele vai além de Carpenter,usando de movimentos de câmera que te colocam mais do lado dos personagens,atento com o background para ansiosamente avistarmos o sinal do vilão nas costas das garotas gostosas indefesas.Da onde ele vai surgir?Como ele vai matar agora?Tape os olhos!Apesar de extremamente eficiente,a trilha sonora poderia ser até acusada de pastiche de "Tubarão" com Bernard Herrmann.Mas a trilha de Carpenter para "Halloween" também era.O que salva as duas é o diferencial,o ponto de autenticidade.Enquanto Carpenter se salva por criar um icônico riff num tecladinho com uma simples escala de notas,Harry Manfredini resolve colocar sussuros que atingem  a subjetividade da mente do psicopata antes mesmo dele ser revelado."Kill Mother!" ou "ki ki ki ma ma ma".Absolutamente brilhante.

E quanto aos argumentos retrógados dos conservadores que iam de encontro ao sexo,à violencia e às drogas?
Primeiro: sexo não é gratuito,é apenas sexo,se isso já tinha sido deixado bem claro nos anos 60,em 1980 já devia ter sido assimilado.E jovens não só vão,como devem ir para acampamentos para foder...essa é a razão da adolescência.
Segundo: jovens consumindo maconha são jovens drogados?Ah...por favor heim...até Shakespeare  fumava.Jovens devem ir acampar não só para foder,mas para fumar maconha.
Terceiro:a violência e o gosto de se sentir medo é uma faceta humana,e deve ser explorada pela arte sem hipocrisia,como uma extensão emocional de um trem-fantasma.
 Os críticos Roger Ebert e Gene Siskel foram publicamente chamar Cunningham de lixo,dizer que tais filmes faziam o público se associar ao monstro e que não deveriam ser assistidos.Siskel chegou ao ponto de expor o endereço de Betsy Palmer para que escrevessem cartas de insatisfação à ela.Esse tipo de atitude fascista só mostra que críticas de arte de alcance conservador podem ser mais ridículas e nocivas que qualquer produção b do cinema,e o quanto a confiança do público nessas críticas deve ser reavaliada,assim como o papel da crítica,que está se tornando cada vez mais banal.