Em seus primeiros filmes Fellini se utilizou de uma maneira de mostrar sua Italia decadente apenas como pano de fundo para aquilo que seria o plot principal do filme.É o que acontece em " A Trapaça".
Um ano depois do seu sucesso "La Strada", Fellini queria Humphrey Bogart para interpretar um filme sobre um trapaceiro ja velho que se encontra a procura de um sentido real pra sua vida.Infelizmente o icone americano ja estava com cancer de pulmão e tragicamente inapto(apesar que se for pensado agora,seu jeito cansado nessa fase da vida era propicia até demais pra esse personagem).Broderick Crawford foi escolhido depois de ser visto num poster de "A Grande Ilusão" ,filme pelo qual ele ganhou o oscar em 1949.
A pelicula começa mostrando a execução de seu golpe mais comum,que ironicamente eles cometem contra a parte pobre da população,tirando tudo o que elas possuem
Como ter simpatia pelos personagens?
Num pais pos-guerra todos vivem como podem.Fellini quase sempre se posicionou do lado do marginalizado.As vitimas desses malandros são o mote pra denucia neo-realistica do filme.
Fellini ja começava a cutucar a igreja como nenhum italiano antes fizera e que acabaria com qualquer apoio que teria dela nos posteriores filmes,aqui o conto-do-vigario é levado ao pe da letra.
Em seguida somos apresentados à vida particular de cada um desses ladrões, como Picasso(Richard Baseheart)o pai de familia sensivel e aspirante a pintor possui uma adoravel filha e uma mulher fiel(Giulieta Masina num efemero mas importante papel) ;Roberto(Franco Fabrizi,o Cary Grant italiano ainda como um sedutor barato como em "I Vitelloni") como o mulherengo sem etica ou moral; e Augusto como o mais velho de todos atormentado pela falta de objetivo na vida e cerne de todo o filme.
A interpretação de Crawford não é menos que excelente,ele carrega uma cruz.Como disse Trouffaut:"Eu vi Broderick Crawford morrer por todo o filme!"
Com a chegada de seu amigo Reinaldo(numa sensacional entrada de cena),um amigo ladrão da antiga que se encontra bem sucedido e posicionado na cúpula da alta sociedade,Augusto muda sua vida.Na festa de Reinaldo,absolutamente felliniana,Augusto encontra a humilhação em ser aos 48 anos apenas um reles patife.Sua unica esperança de ser aguem é sua filha,que ele não tem o costume de encontrar,mas que apos um breve reencontro ele se prontifica a ajudar a pagar sesus estudos.
Tanto Augusto como seus amigos são o maximo do reles atacando de forma tão crua os miseraveis e mesmo assim é dificil irmos contra o ponrto de vista deles.Essa aproximação por sua vez é alcançada pelo humanismo da camera de Fellini.Como na cena em que eles invadem uma favela,mostrada com um realismo denunciativo,como John Ford e Tolland fizeram em "Vinhas da Ira".Enfim,mais uma classe de pessoas que Fellini nos joga pra ser analisada,mesmo que não haja pre-julgamentos em seu conceito final,apenas uma demonstração da realidade da epoca.
Mais um anti-heroi sem redenção,mais uma vez a realidade vence o sonho em Fellini.
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