domingo, 9 de setembro de 2012
"Alien 3"(1992) - David Fincher
O debut de David Fincher consegue mostrar muito mais das características soturnas e opressoras de seus melhores filmes do que "O Curioso caso de Benjamin Button"(2008) ou "A Rede Social"(2010).Aquela estética do desagradável fria que estaria muito mais elaboradamente expressa posteriormente em filmes em que ele teria um controle autoral maior como "Seven"(1995) ou "Clube da Luta"(1999),acaba se tornando superior à intervenções agonizantes que ele sofria do estúdio,fazendo com que o rascunho do estilo de Fincher acabe criando um clima sufocante condizente com a visão de mundo fria dos anos 90.
Conseguindo colocar suas idéias no roteiro,Fincher põe para escanteio qualquer possibilidade de respeito à mitologia dos filmes anteriores.E ele estava certo.O monopólio dos personagens não pertencia à Ridley Scott ou James Cameron.Enquanto o primeiro se mostrou habilidoso no suspense de ficcção científica em 1979,Cameron construiu uma militarizada carnificina testosterônica americana no espaço.A saga estava ali para que cada autor colocasse a sua visão.Fincher queria extrair o horror autêntico,e se tem um filme da série que mais chegue perto do puro gênero do horror,é "Alien 3".Principalmente do horror vigente na época,com gore realista e câmera subjetiva em corredores.
Em "Aliens - O Resgate"(1986) de Cameron,Ripley tem que defender à duras penas uma criança órfã enquanto se envolve amorosamente com Hicks(Michael Biehn) e adquire confiança no salvador andróide Bishop.Num final feliz e aliviador,os 4 personagens se salvam,quase que numa exaltação alegórica à família,hibernando todos juntos num módulo espacial.
Nos créditos iniciais de "Alien 3" Fincher mata todos esses personagens,deixando apenas Ripley como sobrevivente,quando o módulo é mais uma vez invadido pelo alienígena.Numa negação quase absoluta de bem,o módulo cai numa prisão-refinaria espacial habitada por condenados estrupadores,assassinos e afins, que resguardam a ordem e o respeito por uma fanática religião enquanto convivem numa atmosfera claustrofóbica de ar amarelado,cheiro de podridão,canos que servem de ninhos para vermes,barulho de portas de aço se fechando constantemente e eterna desconfiança.Ripley é afundada num universo de niilismo angustiante.Não só descobre que sua "filha" está morta como,na inevitabilidade de ter que descobrir como a criança morreu,ela tem que presenciar o médico da prisão Dr. Clemens(Charles Dance) abrir seu tórax com a edição de som cuidando dos ruídos mais desconfortáveis.Para concluir com o pessimismo,Ripley descobre não haver armas de fogo no local e estar grávida do alienígena partindo para uma corrida suicida quando qualquer chance de salvamento é implodida.
O niilismo é o que importa em "Alien 3",o niilismo acima de qualquer desenvolvimento psicológico.Se Ripley se encontra constantemente vitima de seu nemesis,aqui ela se encontra vítima do negativismo de Fincher.Dr. Clemens,que satisfaz a seca sexual da tenente,é abruptamente eliminado quando justamente parece ser ele o facho de luz,evitando espertamente a inutilidade romântica do conceito de horror que o diretor resguarda.Sigourney Weaver com sua cabeça raspada e com sua interação natural e até superiormente masculina diante dos presidiários,entrega sua Ripley mais resignadamente dura,destruida,experiente e devastada.A música do excelente compositor Elliot Goldenthal é igualmente eficiente na simbiose climática que adquire com o filme e que demorou um ano para ser desenvolvida com a colaboração do diretor.
"Aliens 3",se revisto, acaba sendo um dos horrores mais eficientes da década de 90 mesmo em sua incompletude,como o fraco uso do CGI ,inferior ao trabalho de Stan Winston(mas mesmo assim indicado ao Oscar,afinal é 1992),e o final do parto-suicida,por demais exagerado.
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Acho este o mais fraco da série, Fincher dirige com mão insegura, pesada. E o roteiro possui todo um contexto religioso por trás que quase destrói tudo.
ResponderExcluirhttp://planocritico.ne10.uol.com.br/