quinta-feira, 20 de setembro de 2012

"Brother"(2000) - Takeshi Kitano





Em "Brother" Takeshi  é Aniki,um funcionário da Yakuza que se envolve em uma briga de famílias e vê a morte de seu chefe seguida da submissão covarde de seu irmão que corta o próprio dedo para demonstrar fidelidade ao inimigo.Nessa perda de lealdade fraternal e de honra mafiosa na Yakuza,Aniki desce em Los Angeles para encontrar seu outro irmão,o mais novo e que deveria estar longe do crime,enrolado com uma gang de bandidinhos que vendem drogas na esquina  e que não possuem atitude para comandar no crime.Assumindo as rédeas,Aniki não enxerga freios,e na tentativa de montar uma outra associação fraterna dessa vez bem sucedida ele vai eliminado os rivais facilmente até ter que se defrontar com os italianos.Montando sarcasticamente uma hierarquia criminosa,Kitano põe a Yakuza como uma decadente rixa de amostras de honras superficiais,os negros americanos como irresponsáveis,os hispanos como irrelevantes e demonstra uma certa reverência para a secular Mafia italiana.Com o sentido de família mais uma vez destroçado por mais um irmão covarde em frente ao destino,o verdadeiro "brother" acaba sendo o cupincha Denny(Omar Epps),negro desbocado que sofreu uma garrafada no olho de Kitano logo de chegada.


"Brother" não conseguiu me extasiar como "Hana-Bi",mas é Kitano violentamente  melancólico e irônico.Kitano não surgiu  como um cineasta antropofágico típico do início dos anos 90,ele foi matéria-prima original assimilado pela antropofagia.Aliás...Kitano nem surgiu como cineasta,surgiu como comediante stand-up,polêmico por gozar da sociedade e dos "marginais" sem perdoar idade,crença,beleza,status.Foi proibido de entrar em emissoras de tv.Teve um programa de tv.Escreveu romances ,poesias e livros sobre cinema.Pintou aquarelas..."Hana-Bi" por favor.Mais uma coisa...Takeshi Kitano na verdade é Beat Takeshi e vice-versa.No cinema Kitano brinca com a Yakuza e com a morte que convive ao seu lado,niilista com sorrisos de sarcasmo.Mas também pode ser suave e família ou se auto-ironizar.


 Com tudo isso,Kitano É a cultura japonesa...se bobear Kitano É o Japão moderno.Duvida?Então ponha "Glória ao Cineasta"(2007) para rodar.Kitano não surgiu com o cinema,o cinema como a arte completa engloba todas as suas facetas.Assumindo total controle da obra,Kitano dirige,atua,edita.Na verdade ele faz mais que atuar...ele cria uma persona,um Eastwood Yakuza,um Yoshimbo de terno e óculos escuros.Um dos maiores autores a surgir no cenário japonês pós-moderno junto com Juzo Itami.
Em "Brother" Kitano joga com honra,fidelidade,valores e família.Mostra que é tão duro Caim matar Abel quanto deixar Abel às traças.Nessa desilusão a América se mostra como o palco do mergulho de Aniki na violência,com a passividade de sua personalidade profetizando o teste mortal de honra.Denny e a perda da família entra em sintonia com a alma de Aniki,o que causa o ato de gratidão final e a atitude de entrega da vida ao inimigo,até porque a vida é carne e vazio sem o laço familiar.Através da aridez poética da narrativa,de montagem com sinapses violentas e longos planos estáticos de vida corrente e real de convívio, Kitano monta esteticamente o desespero moderno mostrando a vida como uma comédia perversa...e prova ser um cara que conhece as ruas e seu desesperançoso ecossistema,independente da nacionalidade dessa rua.


2 comentários:

  1. Bom comentario cara.

    Foda mesmo é que no fim da história o verdadeiro irmão dele acaba sendo um homem etnicamente e culturalmente totalmente avesso ao invés dos próprios irmãos dele (se eu não me engano, no fim, ele briga com todos rs). Enfim, filme foda demais. O final é coisa linda.

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  2. Acompanhar os momentos de singeleza pura que edifica a amizade dos dois é de incrivel.

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