quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"Os Melhores Anos de Nossas Vidas"(1946) - William Wyler




A guerra vista por outros olhos.O pós-guerra,os efeitos dela.Em 1946,o filme de William Wyler se concentrou na história de três soldados,que após retornarem da 2º Guerra Mundial,encontram uma série de dificuldades de adaptação.
Correndo riscos de cair numa melo-dramaticidade oportunista ao retratar traumas de vida,tanto o roteiro de Robert Sherwood adaptado de um livro do correspondente de guerra MacKinley Kantor quanto a direção de Wyler fizeram com que a produção se torne viável tanto no passado quanto no presente.

Wyler tinha como uma de suas principais características o modo como conseguia extrair o máximo de seus atores,tirando da estaticidade da câmera o sentimento do personagem.Por isso um enredo tão honesto em seu humanismo se fortalece com sua direção,um alcance psicológico onde progressivamente acompanhamos a luta da reabilitação mental de cada soldado.Os três são: Capitão Fred Derry(Dana Andrews),que ao retornar descobre sua mulher trabalhando em clubes noturnos;Sargento Al Stephenson(Fredric March),pai de família que caminha na corda bamba do alcoolismo;e o soldado segunda-classe Homer Parrish(Harold Russell),que volta para sua namorada com as duas mãos amputadas.Russell joga ainda mais com o realismo cortante do filme,por ser ele realmente um veterano mutilado que como amador conseguiu não só passar a coragem e o carisma que ele naturalmente carregava consigo,assim como qualquer pormenor da sua situação.Três seres humanos de diferentes classes sociais se interligando pela dor e deslocamento de uma experiencia em comum no bar liderado pelo Uncle Butch(o popular compositor Hoaghy Carmichael,pianista do "Uma Aventura na Martinica" do Hawks)

O diretor de fotografia Gregg Tolland,herói do deep focus de "Cidadão Kane",usa o artifício de forma sutil,para dispor os personagens em diferentes campos de visão,cujas atitudes se conectam em sentido.Mandando seus atores vestirem roupas do dia-a-dia e usando sets em tamanhos reais,Wyler acentua ainda mais a sua busca pelo olho-testemunha da realidade comum,evitando qualquer claro-escuro ou artificialismo fotográfico,o que não deve ser confundido com falta de estilo,o que fica claro pra quem viu filmes como "O Morro dos Ventos Uivantes"(1939).
O monstro que os protagonistas tem que enfrentar é absolutamente interno,recebendo e evitando o amor familiar que todos tentam compartilhar com seu ente querido tanto tempo ausente.A esposa e filhos de Friedric;Andrews se vê envolvido com uma tirana mas logo encontra na filha de Fredric,Peggy(Teresa Wright),o carinho que precisa;Russell tendo que lidar com a auto-piedade,sendo que nem sua namorada lhe abandona,muito menos seus pais.

É esse apoio,essa valorização da família como ela realmente deve ser valorizada,que torna o filme um aprendizado que edifica a alma e o coloca acima de qualquer política,fazendo com que a solidariedade e a confiança que deve existir entre aqueles que precisam de compreensão e os que devem doá-la resulte num filme cujo amor e entendimento supere qualquer anacronismo temporal.

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