A televisão surgiu como um furacão pós-moderno perverso e engolidor da verdadeira arte no seculo 20.Suas artimanhas publicitarias e seu entretenimento vazio,forçado e alienatório foi uma das principais causas da decadencia cultural moderna.Nada mais satisfatório do que ver Fellini em seu ultimo grande filme agir com um sarcasmo cortante e engraçadissimo contra essa midia tão despudorada,lidando com temas pessoais seus como a propria "decadência", sua velhice e o medo do futuro.
Amelia(Giulietta Masina) e Pippo(Marcello Mastroianni) são dois veteranos artistas que costumavam imitar Ginger Rogers e Fred Astaire 40 anos antes e decidem se reencontrar depois de um convite feito por um programa de televisão.O mundo se encontra diferente,o aparelho televisor surge como um imã cerebral.Ninguem consegue largar os olhos dela.
O humor é a ferramenta de Fellini.Quando Amelia desembarca em Roma o maremoto cultural moderno ja a engole na figura de funcionarios da televisão,sósias dos mais variados artistas,figuras excentricas como um travesti,um velho heroi de guerra...
Amelia (Masina tão naturalmente perfeita e auto-referenciativa como em "Julieta dos Espiritos"(1965)) se encontra apavorada com todo aquele assalto de perversão e superficialidade,onde as pessoas não conversam,apenas mandam..;e numa Roma perigosa como nunca.
A direção de Fellini por mais convencional que seja,nunca é convencional.O modo como ele distribui esse bando de personagens emergentes de um novo mundo é com a mesma quadrinização anterior.A musica de Nino Rota não existe mais ali,mas parece que Nicola Piovani(oscarizado por "A Vida é Bela")segue a mesma linha picaresca,visto que a correspondencia psicologica da musica-Fellini ainda é a mesma.
Mas o que carrega realmente o filme é Marcello Mastroianni em uma puta interpretação.O seu Pippo é um verdadeiro artista desbocado,cinico,debochado e frustrado,mesmo que procure não não deixar transparecer em meio a piadas sarcasticas.O ator se joga em seu personagem com sua voz catarrenta e constantes tosses em meio à resmungos e atitudes de escarnio.Um divertido personagem que carrega Amelia pela mão em sua erratica decisão de voltar ao passado ou não,em um programa de televisão de espetaculos passageiros e superfluos(que tem como apresentador Franco Frabrizi,ator recorrente nos primeiros filmes de Fellini como "Os Boas-Vidas" e "A Trapaça").
Enfim o final se mostra ao mesmo tempo que lindo e emocionante,uma lapide na sepultura de um artista.O rock'n roll ja tinha dominado,a televisão extrapolado,sacos de lixo espalhados por toda a cidade.Fellini se despede com sua ultima visão satirica de um futuro incerto...
Nenhum comentário:
Postar um comentário