Filmes tendo como ponto de partida uma familia destroçada pela guerra ja existiam desde "O Nascimento de uma Nação" de D. W. Griffith.Mas o individuo alienado que é pego pelo patriotismo e acorda para uma realidade avassaladora e mortífera tem a sua epopéia exposta primeiramente por esse filme de King Vidor.
Pressionando Irving Thalberg,cabeça-chefe genial da MGM,para que produzisse um filme tão realístico quanto ambicioso,Vidor e o roteirista Harry Behn adaptaram o romance autobiográfico "Plumes" de Laurence Stallings o transformando no filme que o faria um dos diretores top de sua época.
Antecipando "O Franco Atirador",a primeira hora do filme se concentra na apresentação dos personagens e suas diferentes nuances psicológicas misturando romance e humor e se distanciando de qualquer ato de violência.Uma hora lúdica.Conhecemos o protagonista James Apperson(Lewis Gilbert,que se tornaria um dos maiores astros da época),um jovem rico e mimado que a principio não vê muita vantagem em se alistar no momento em que os EUA entram na Primeira Guerra Mundial,mas como o patriotismo surge em cada esquina através de bandeiras,confetes e desfiles,como o seu pai se sentiria mais orgulhoso com seu alistamento e na tentativa de se juntar à freneticidade empolgada de seus amigos ao mesmo tempo que tenta agradar a namorada,James acaba cedendo à "honra"estabelecida pelo dever à patria.
Vivendo num stand-by com o resto de sua tropa num vilarejo francês,James se apaixona por Melisande, atraente dentro de sua vulgaridade,estranha a um rapaz acostumado com patricinhas da alta sociedade.Junto com mais dois de seus amigos James vai aprendendo a compartilhar,a viver conforme a necessidade,e a fortalecer seus laços com a francesinha cobiçada pelo resto da tropa devido ao distanciamento sexual que a guerra proporciona.
Assim somos mergulhados num clima absolutamente lúdico com a mistura de versatilidade tanto de Vidor quanto de Gilbert que contrabalanceiam o humor físico com o romance,enquanto que o personagem se desenvolve psicologicamente com o nosso acompanhamento.
Enfim as tropas são chamadas para a guerra,e num choque atmosférico somos levados ao inferno de Vidor.
Com a idéia de expor de forma crua e sangrenta o que uma guerra realmente é,ele constrói cenas magníficas em uma tour de force inédita.
Os soldados invadindo uma floresta cheia de metralhadoras e snipers assim como o momento em que seu amigo Slim sai da trincheira se escondendo entre sinalizadores para cumprir uma missão cujos resultados respondem à todo o destino que a vida de James toma pela frente estão entre as maiores do cinema de guerra conseguindo aproximar o espectador da tensão que o momento representado proporcionaria e fazendo com que julguemos por nós mesmos a decisão que iríamos tomar em tal situação,ao mesmo tempo que nos colocamos do lado do protagonista de uma forma indgnada ao ver que o que está sendo mostrado na tela é uma arbitrariedade comum na politica humana.
O senso de cenário e iluminação de Vidor proporcionam pela primeira vez a guerra como forma de arte,o que seria repetido por "Apocalypse Now"(1979),"Gloria Feita de Sangue"(1957) e por "Sem Novidade no Front"(1930,um filme mais recente à esse e injustamente mais conhecido).
As ruinas de um bombardeio dispostas no background como um quebra-cabeças gigante,o flashback no abraço de sua mãe quando James retorna com seus olhos frios fazem desse filme não só uma das grandes obras de arte anti-bélicas como tambêm dá o grande chute necessario para que um dos maiores diretores de sua época deslanchasse sem ser uma marionete-capitalista,mas um dos primeiros autores a imporem uma marca propria ao mesmo tempo que lidavam com grandes estudios : King Vidor.
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