A união do americano James Ivory,o produtor indiano Ismail Merchant e a roteirista alemã Ruth Prawer Jhabvala resultou em pelo menos 4 grandes filmes perfeccionistas e absolutamente perfeitas adaptações de romances.
Parece ser uma grande melosidade,filmes de época ingleses não encontra lugar na exigencia dos jovens brasileiros por exemplo,mas James Ivory e suas produções são nomes a serem considerados e não só por adoradores do Oscar cujas varias estatuetas foram para seus filmes,alêm das indicações é claro.
O livro de E.M Forster foi escrito em 1908 na época em que o Rei Eduardo VII incentivava as artes e o sufragio feminino numa transição da sociedade inglesa visando a modernidade.
E claro,ingleses jogando tenis nos gramados ao sol eram imagens frequentes desse periodo.
Miss Lucy Honeychurch é um exemplo de garota que encontra a liberdade de escolha,o poder e a possibilidade da escolha em meio a sua descoberta sexual.O começo em Florença onde Lucy se encontra como turista com sua prima Charlotte(a tipica inglesa conservadora interpretada pela sempre competente Maggie Smith)em um hotel cujas presenças de diversoso outros personagens são compartilhadas,como os turistas ingleses Mr Emersom(um desbocado progressista fã de Thoureau) e seu filho George(absolutamente filosofico e aventureiro a ponto de extremas divagações),alêm do vigario malicioso Beebs(o sempre otimo Simon Callow),as duas velhotas Allans e a escritora libertaria Eleanor Lavish(que puta aparição de Judi Dench,cada momento seu é sublime) de uma importancia quase que metafisica no enredo final do filme,que leva Charlotte para uma divagação sobre o fogo escondido em Lucy numa viagem por Florença sem o Baedeker.
Após a visão da violência num homem esfaqueado (numa cena que me fez lembrar "O Atalante" de Jean Vigo)ela é acolhida por George e atraida por seu jeito selvagem.
Nota-se que o trunfo da produção do filme vai do figurino à direção de arte,a direção de Ivory tem o trunfo de harmonizar a edição e a fotografia a ponto de apresentar seus personagens através do estilo quadrinesco-literario que a sétima arte pode alcançar como ponto maximo de equalização com a literatura e o modo de se digerir um historia sem contar com excessos cansativos ou bordas gordurosas.
Os filmes de Ivory são polidos mesmo transpondo na decada de 80 um romance cujos temas ja eram pouco ligados por si só à contemporaneidade,mas que devem ser julgadas dentro da sua proposta.
Se direcionar ao romance e aprofundar tudo o que estiver ligado a ele,não importa se moderno ou não.
Prazeroso é ver Bonham-Carter linda como nunca em seu debut detonando como Lucy,uma mulher no fio da navalha entre o conservadorismo tedioso de se casar com Cecil Vyse(Daniel Day-Lewis,cuja atuação sublime lhe alçou ao patamar dos grandes talentos),que não sabe beijar,não sabe o que é uma mulher,não sabe jogar tênis...
Valores individuais são jogadas pro alto no romance de E.M. Forster que queria retratar a transição feminina à época, a queda da Belle Époque e dos costumes aristocraticos eram iminentes num comportamento mais a favor do livre -arbitrio feminista.Como Ivory nos mostra de forma brilhante no paralelo do beijo com pegada,demorado e verdadeiro de George em Lucy em meio as flores,com o beijo de Cecil,engraçadissimo,torto,seco e erratico.
Bonham-Carter passa de forma descomunal a tensão sexual e a dúvida do comportamento a favor do desejo verdadeiro de querer seu homem verdadeiro.E o final na janela com uma vista exala de forma orgasmica o final triunfante de uma mulher representando uma época,veja aí a riqueza de profundidade que seus personagens principais adquirem.
James Ivory é a prova através de suas adaptações que o cinema não é só travellings e piruetas mas a conjugação de musica,edição e fotografia(alem de figurino,direção de arte...)para se contar uma boa historia sem a pretensão senão de contar uma boa historia.
A de uma garota cujo Beethoven tocado com um fogo no piano,lhe falta na vida real.
Um terno,profundo e engraçadissimo filme.Importante!
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