quinta-feira, 6 de setembro de 2012
"Paixão de Fortes"(1946) - John Ford
"Paixão de Fortes" é quando o western dá um passo a frente no mundo da arte,é o filme mais importante nesse sentido desde "No Tempo das Diligências"(1939).É o filme-prova da sofisticação estilística da paisagem fordiana em um belíssimo contraste de claro escuro,dilatando o cenário acima de todos.É a personificação mais perfeita do herói americano,portador da justiça e do equilíbrio,mantenedor da família que é dilacerada aos poucos pela maldade selvagem de um país em construção.
Para quem gosta de cinema japonês e quer saber de onde Mizoguchi ou Kurosawa tiraram inspiração de Ford,"Paixão de Fortes" é um ajuntamento de descobertas.É emocionante perceber hoje em dia o quanto um filme com título original vindo de uma canção popular("My Darling Clementine") e a "reconstituição" de um momento histórico manjado do Oeste americano rendesse uma dádiva assim tão cheia de sensibilidade simplesmente por sair da mente de um homem que exalava sua visão em películas.
O filme remete à Wyat Earp(Henry Fonda),que junto com seus 3 irmãos tocam gado perto da cidade de Tombstone.Após serem abordados pelo velho Clayton(Walter Brennan),vão visitar a cidade de Tombstone deixando seu irmão mais novo James na espera.Quando eles voltam encontram James assassinado e o gado roubado.Decidido por vingança,Earp e seus dois irmãos restantes Virgil(Tim Holt de "Soberba" e "O Tesouro de Sierra madre") e Morgan(Ward Bond,onipresente) decidem retornar à Tombstone com Wyat Earp se tornando xerife,e contando com a associação de um falcatrua dono do casino local,Doc Hollyday(Victor Mature),na verdade um médico turbeculoso e as mulheres que o cercam.
A tensão do enfrentamento entre as duas famílias é permeado do que Ford mais gosta: o passado já famoso de Wyat que impõe um certo respeito entre os populares;os seus feitos heróicos(como conter o indio bêbado no inicio da trama);o fato de as vítimas serem irmãos de sangue,que dói mais,construindo o famoso lençol agonizante e melancólico com que torçamos constantemente por redenção e vingança cumprida;a morte mais uma vez enfrentada com dor em conversas na lápide cheia de promessas;a inabalável moralidade do protagonista sempre surpreendendo;e as brigas,os momentos cômicos extraídos de uma cidade de tensão visitada por um ator shakespeariano bêbado...a meiga Clementine disputando Doc com a extrovertida e quente Chihuaha(Linda Darnell) enquanto traz à tona o que tem de mais acessível no coração do frio e metódico Wyatt Earp.
O Monument Valley se encontra grandioso como sempre,mas o que realmente vale a pena em "Paixão de Fortes" é ver a distribuição dos personagens por entre os sets de Tombstone,com o progresso como alguém como Earp consegue proporcionar para toda uma população,com Henry Fonda se equilibrando na cadeira e circundando entre barbearias e saloons com a cabeça à prêmio.
Henry Fonda mais uma vez mistura a sobriedade,com dureza e com simpatia.Uma grande performance numa construção de personagem interessantíssima,um herói de western diferenciado de um ator versátil,que viria a ser um grande vilão no futuro com "Era Uma Vez no Oeste"(1968) de Sergio Leone.Em "Paixão de Fortes", a maneira como ele gesticula,como ele dirige o olhar distribuindo confiança e equilíbrio o destaca como o ideal do americano,longe de ser um marginalizado,ou um cowboy existencialista.Apenas um herói da lei justa.O herói da estrelinha no peito.
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