quinta-feira, 20 de outubro de 2011

"Giulietta dos Espiritos" by Federico Fellini - 1965

"Giulietta dos Espiritos" é um filme dedicado à descoberta sexual.
O primeiro filme de Fellini colorido  tambem é um filme dedicado aos anos 60,uma absorção felliniana de conceitos new wave.Representativo de uma época,assim como varios dos filmes dele.
Esse filme é dedicado tambem(ou principalmente) à Giulietta Masina,sua mulher e protagonista deste filme, alêm dos filmes da época neo-realista dos anos 50 como "A Estrada da Vida" ou "Noites de Cabiria.
Excepcional atriz que se entrega à um sutil porem perfeito retrato de uma mulher de casa normal,reprimida sexualmente e casada com um homem ausente que a trai;o mais divertido é que seria Giulietta interpretando Giulietta.Os pontos autobiograficos podem ser dificieis de reconhecer,mas o casamento de Fellini andava em polvorosa devido à sua personalidade dificil de artista,e como a trajetoria de Giulietta é repleta de frustrações e desejos reprimidos,os sets do filme ficaram cheio de faiscas do casal.


  Após ter criado  "81/2", Fellini praticamente deu esse filme à Giulietta.Visto que o primeiro era um filme sobre a mente de um artista com traços autobiograficos,nada mais interessante que dirigir um filme sobre o auto-descobrimento libertario de sua mulher com a devida utilização de sonhos,arquetipos e situações que façam com que participamos na analise psicologica do protagonista.
Fellini como sempre da um passo a frente ao abordar influencias espiritas e misticas numa bela utilização da cor como o mais novo instrumento de sua sofisticação tecnico-artistica.A tecnica de Fellini sim estava no auge,logo nas primeiras cenas vemos que sua camera deslizará em um mundo novo,planos sequencias longos que seguem apresentando os personagens que vão surgindo numa dança picaresca.Nino Rota tambêm sempre da um passo a frente,agora com uma trilha digamos que mais psicodelica,ja que a decada de 60 começava a revolucionar em varios ramos culturais,filmes como o de Fellini não só acabavam absorvendo os temas recorrentes à sua época como tambem instigavam novas modas e tendencias filosoficas e artisticas.
O sexo era um dos temas principais da decada de 60 e é o tema principal desse filme visto que Giulietta corre atras de sua libertação sexual.Espiritos são ouvidos por ela em meio à um tulmutuoso caso de tentativa de descobrir se seu marido a está traindo,o que fica óbvio o filme inteiro.A causa seria sua repressão sexual contrastante até com a persona de sua mãe e suas duas irmãs.Ela é uma mulher docil e amavel,excelente dona de casa....mas e o sexo?Eis a causa da infidelidade do marido.É como diz o medico no inicio na cena da praia  "Diga para seu marido fazer mais amor!".Espirtos que fazem parte de sua infãncia,assim como espiritos intrusos,acabam sendo seus guias.Como na casa da vizinha Suzy,dona de uma excêntrica e  libertina mansão onde Giulietta conhece quartos com espelho no teto,com escorregadores pra piscinas,casas no teto...quando Fellini filma dois jovens subindo a casa da arvore para um menage a trois com Suzy,que ja aparece semi-nua,é uma total entrega do diretor à revolução de sua época.Há outros personagens que surgem como possiveis messias de Giulieta em sua libertação sexual como o guru que cita o kama sutra e ensina os sons do sexo;o amigo espanhol de seu marido que surge numa misteriosa sombra,como um ideal imaginado e que seria sua devida vingança.


Poderia dizer muita coisa ainda sobre o filme como as brilhantes recordações da infância de Giulietta assim como a ligação que essas lembranças tem com sua possivel estagnação pessoal.
Mas o que eu acho mais importante é ver como Fellini transforma um caleidoscopio de referencias psicologicas pessoais com temas universais referentes à epoca,se arriscando em retratar seu casamento como algo perturbador;é ver como Masina se entrega a seu marido,mesmo que brigando no set,aceitando com servilidade artistica a visão de Fellini sobre o problema de ambos,assim como a visão de Fellini sobre sua possivel personalidade.
Um grande filme do magico Fellini,mais uma coleção de temas a serem expostos oniricamente em tela sem demonstrar nenhuma pretensão.A grande duvida que fica é se o caminhar solitario de Giulietta no fim do filme significa sua libertação ou sua trajetoria em direção à completa solidão.Pode ser um conformismo como o de Guido em "8 1/2".
Os espiritos continuarão ali,e são amigos...ou não.