segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"A Cruz dos Anos" - by Leo McCarey - 1937

"Um filme que faria até as pedras chorarem" - Orson Welles




Realmente nos anos 30 Leo McCarey nos presenteou com uma obra cuja sensibilidade e humanismo em plena era da depressão e da desvalorização familiar não era só essencial,como tambem digna de reflexão.A historia de dois velhos pais que são desterrados pelo banco e ignorados pelos filhos só encontrou obra passivel de comparação em 1953 com "Era Uma Vez em Tóquio"(1953) de Yasujiro Ozu,roteirizado por Kogo Noda que assistiu "A Cruz dos Anos" em 1937,que por sua vez teve grande sucesso no Japão.A diferença mais crucial portanto é que no filme de Ozu os pais são vitimas do esquecimento dos filhos diante do homem moderno e suas ocupações enquanto que no filme de McCarey os pais não são só vistos constantemente como obstaculos,mas têm suas vidas separadas para sempre.

O filme começa com o casal de idosos interpretados pelos veteranos e excelentes Victor Moore e Beulah Bondi reunindo os filhos para contar a tragica noticia de seu despejo.Os filhos passam essa situação de um para outro decidindo por ter que separar os pais pela "impossibilidade" de cuidar dos dois juntos de uma vez,ficando  a mãe na casa do filho George(o excelente Thomas Mitchell) e o pai na casa da desprezivel filha Cora( a inglesa Elizabeth Risdon),a milhas de distancia.

Dificilmente nos anos 30 a câmera ficou tão a serviço do seu excelente elenco e suas sensiveis atuações num tema moderno à epoca,do ponto de vista social,e tão pungente,mostrando o humanismo de seu diretor.Os velhos são vistos como impertinentes como na cena em que a mulher de George tenta dar uma aula de bridge enquanto a velha mãe faz barulho na cadeira de balanço;quando ela atende o telefone e com uma voz alta conversa com seu distante marido,os elegantes alunos assistem e escutam no background mudando suas expressões do amuo à tristeza a medida que vão sentindo  a dor e a angustia na voz da velha senhora.Ou quando ela encontra na correspondencia a carta do asilo e a câmera acompanha sua face triste com a chegada de George para dar a noticia,sendo interrompido pela renuncia da propria ao perceber a impossibilidade de continuar com seu velho amor ou de ser realmente amada por quem se ama,seus proprios filhos.A neta barulhenta e putinha que a abandona na sal de cinema pra se relacionar com um homem mais velho,os valores modernos eram tratados sem receio como nas grandes obras de McCarey.O casamento moderno e seus superfluos valores de George junto com os problemas financeiros e a neura egoista de Cora que põe seu pai doente pra dormir no sofão ,o transferindo para a cama após a chegada do médico,são retratos sociais que mostram a indiferença familiar a que  estava sendo conduzida o mundo naquela época,até o caos total do pós-guerra.


Quando eles se encontram para uma despedida antes da viagem do velho para California para motivos de saúde(na verdade uma desculpa para Cora o abandonar),McCarey os coloca lado a lado de braços dados num passeio final em que as horas tem que ser contadas,num desespero apaixonante de dois jovens amantes.A lembrança dos velhos tempos surge na visita de ambos ao hotel onde passaram sua lua-de-mel,onde são bem atendidos,onde a valsa é retocada para dançarem...onde a nostalgia e o amor na vida de duas pessoas condenadas ao esmagamento que o desprezo causa no destino de dois velhos,toma corpo na forma de lagrimas de quem assiste.
Aquela honestidade,solidariedade e compaixão dignos do humano mais sensivel e que não se encontra em seus filhos,ironicamente toma corpo nos desconhecidos como o vendedor de carro que promove uma tour pela cidade,o funcionario do hotel,ou o dono do armazem Sr. Reubens(que não consegue conter ao choro ao ler a carta,e em seguida chama sua mãe por pelo menos poder avista-la após ser testemunho de um terrivel descaso).Leo McCarey fez o filme logo após seu pai morrer,e se encontra tal familiaridade na entrega de alma que o diretor oferece atraves da despedida de um trem,triste como nenhuma despedida....