sábado, 18 de agosto de 2012

"Tempestade Sobre a Ásia"(1928) - A Aventura de Pudovkin

A Mongólia sempre teve que lutar arduamente pela sua Independencia.Desde que foi fundado o Imperio Mongol por Genghis Khan no final do seculo XII a sua dependencia em relação à outras culturas e povos foi desde os monges tibetanos na Idade Média,passando pela Dinastia Qing manchu que tinha dominado a China,e a União Soviética.
Durante a Guerra Civil Russa que se deu entre 1918 e 1921 a Russia se dividia entre Exercito Branco(ex-tzaristas e cadetes) e Exercito Vermelho( mais conhecidos como bolcheviques) que tinham instaurado um governo após a Revolução de Outubro de 1917.Os Aliados da Primeira Guerra como a Inglaterra e França mandaram tropas de apoio ao Exercito Branco com medo do avanço comunista dos bolcheviques.

É nesse contexto que se encontra as areias mongólicas desse maravilhoso filme de Pudovkin,areias que abrem o filme onde numa cabana um Lama faz sua oração para o chefe doente de uma familia de vaqueiros e caçadores que vivem de vender peles de raposa no mercado prinicipal.Impossibilitado ele manda seu filho ir no seu lugar revelando em sua posse uma magnifica pele que faz os olhos de todos quase lacrimejarem devido a sua beleza e aconselha a vender a um preço de 500 pratas e não menos que isso.O proprio Lama ao ver que recebia um pagamento mísero se agarra à pele numa briga hilaria e depois de tomar um empurrão e ser derrubado foge e na fuga deixa cair um amuleto sem perceber.A mãe vendo o amuleto e não conseguindo avisar o Lama que ja cavalgava ao longe deixa na posse do filho para servir de proteção durante a viagem.
Ao chegar no mercado os Capitalistas(Exército Britânico) são avisados que o jovem carrega uma valiosa pele,roubam ela numa injusta troca,o mongol não aceita,briga,perde,foge pras montanhas e entra para o exercito partisan dos bolcheviques onde um tempo depois ele é capturado pelos ingleses e mandado ao fuzilamento.Mas ao descobrirem que o  amuleto continha um escrito que dizia que o proprietario de tal era descendente direto de Genghis Khan( a figura mais venerada da Mongólia até hoje)os ingleses decidem usar desse prestigio natural para torna-lo um rei à favor de seus interesses politicos.


Interessante é perceber que enquanto Eisenstein vestia a camisa do comunismo ao ponto propagandistico e tendo o coletivo como protagonista,Pudovkin criava um individuo marginal de um povo que servia de rebanho para a  União Soviética e narra fatos que iam ser causas do proprio regime comunista,como a manipulação dos lideres politicos mongóis para aumentar a sua influência.Até porque os ingleses nunca tiveram na Mongolia e os opressores na verdade eram o Exercito Branco,mas como mostrar isso na Russia ja stalinista de 1928?
A idéia foi esquecer que haviam russos contrario aos bolcheviques e mostrar o extrangeiro como vilão.
Mas fica a pergunta:será que Pudovkin não estava desiludido com o esperançoso comunismo mas ainda desmascarando o predatório capitalismo?
Essa desilusão esta sutilmente encravada na direção que seus filmes tomavam rumo ao individualismo e às formas que o individuo,e não a massa,tinha de resistencia.Mas ainda assim à serviço do ideal bolchevique,claro.
Porque no mundo das idéias o comunismo continua mais honroso que o capitalismo,mas na pratica o socialismo se mostrou um sistema fragil e tirânico.Tanto que o Capitalista de Pudovkin é caricatura,olhos frios imersos em belas peles caras e generais assassinos sem coração usando da diplomacia hipocrita pra se estabelecer.Mas o socialismo aqui é visto apenas como um refugio,a unica opção de salvamento do personagem,de se salvar e de salvar o seu povo.Uma escolha individual e tambem de vingança,o que distancia o enredo aventuresco de Pudovkin do maniqueismo explicitamente panfletario de Eisenstein.O filme é muito mais um épico sobre um herói vitima das circunstancias.

Um pouco mais de 20 anos da invenção do cinema e os russos ja se debruçavam a escrever livros e livros sobre edição e suas diferentes formas de manifestação.
Pudovkin foi um dos que brilhantemente sistematizaram os diferentes tipos de edição e os aplicaram aos seus filmes.Portanto todas as principais leis se encontram aqui como nos filmes de seus conterraneos como Eisenstein e em outros filmes de Pudovkin como "A Mãe".
A base pratico-teorica da montagem construtiva que constroi o entendimento da cena de forma organica e que deve ser pensada ja na filmagem se ramificando numa montagem-da-sequencia onde a coesão deve gerar um estimulo de interesse no telespectador em relação ao seu desfecho gerando uma tensão incrivel.E isso percebe-se claramente em momentos magicos como quando o mongol é roubado no mercado e no excelente porem abrupto final.
Montagem por Contraste:como quando simultaneamente são mostrados o nosso herói sendo capturado enquanto o general e sua esposa estão se arrumando para diplomaticamente visitar o templo budista.
Até na apresentação de um cenario é a montagem que nos conduz como quando o templo nos é mostrado de seus diferentes angulos.
Mas Pudovkin se interessa no interesse causado pela narrativa,então são nas cenas de perigo,de divertimento e de suspense,que a edição se mostra um quebra-cabeças magico e até vertiginoso que influenciaria,como todo o cinema sovietico daquela época,futuras gerações.