
O que é verdade!
Vencer os podres do pós-guerra dependia de cada um.As prostitutas tambem venciam por elas mesmos.Por mais histerica que a excentricidade de Cabiria possa ser, o real amargo comum à Fellini aparece tanto na violencia que é mostrada de forma crua como na cena inicial do afogamento,assim como na vulgaridade da Vila Cecilia(onde se encontram todas as putas),assim como nos cabelos sebosos de sua amiga Wanda e assim como no epilogo de cada uma de suas desventuras.
O filme é sobre o orgulho de um excluido,um marginal,uma personagem petulante e explosiva,mais proxima da real personalidade de Masina do que Gelsomina.Cabiria ja tinha aparecido em "Abismo de um Sonho" de forma breve mas forte,mostrando a capacidade de Masina.
Quando filmava "A Trapaça" Fellini conheceu e acolheu no set(por solidariedade) uma puta chamada Wanda e ouviu e aprendeu um pouco mais de sua vida.Apesar disso o polemico e inteligentissimo Pasolini foi contratado pra consultas no roteiro devido seu conhecimanto sobre o caso.O nome Cabiria vem do pre-"O Nascimento de uma Nação" filme de 1914 "Cabiria",considerado o verdadeiro marco inicial da narrativa cinematografica.
A veracidade do local onde elas fazem ponto por exemplo é tão incrivel(quem conhece sabe) que acho que a contribuição de Pasolini esta aí.Na descrição do modo como elas se relacionam no ambiente de trabalho.Um estranho ecossistema com a camera de Fellini rodopiando entre putas de diferentes personalidades num louco senso de espetaculo circense.
A principal busca de Cabiria é pelo amor,e o amor verdadeiro pra uma puta ,ainda mais pra uma puta como ela(a mais reles) é dificil de achar.Com um pessimismo agoniante cada uma de suas possiveis esperanças de amor são frustradas,mesmo que ela sempre erga a cabeça depois de tudo,todos nós a conhecemos suficiente pra compreender que o orgulho esconde o desespero.Como na sua tour noturna com o ator Alberto Lazzari(Amadeo Nazzari em uma auto-referencia,dada a estrela do cinema italiano que ele realmente era),que mesmo sendo entremeada de exoticas danças fellinianas(com o seu persistente encanto com o mambo dançante) e faiscas de esperança,acaba com Cabiria na mesma posição de um cachorro,E quando surge o close seguido da trilha-arranca lagrimas,ja estamos tão proximos da personagem que nada mais é obvio.
O desapontamento de Fellini com a igreja é exposto aqui de forma agressiva e ironica.Como no deslumbre de Cabiria com uma procissão sendo interrompido por um rude caminhoneiro exigindo seus serviços.O mesmo caminhoneiro que a joga no meio do nada.É no meio desse nada que ela encontra um homem que cuida dos mendigos que moram nas cavernas.Nas cavernas conhecemos a historia da decadencia de Bomba,mostrando que todos que vivem a margem andam na corda-bamba.E por mais que essa cena seja a mais honesta,a mais denunciativa,a que mais motra o sofrimento de um povo desconhecido atras da mascara de uma sociedade em reconstrução capitalista....foi essa a cena que a Igreja baniu.Totalmente justificavel o odio de Fellini contra a hipocrisia da Igreja.
A constante humilhação de Cabiria vem de atitudes inocentes como a cena do hipnotismo.Nós como espectadores chegamos ao ponto de não querermos mais essa humilhação,a simbiose personagem-espectador é tanta que a possivel e quase óbvia aparição de um possivel verdadeiro amor é digna de nossa torcida.Mas quando percebemos que o mal pode persistir,gritar pra Cabiria não adianta.Choramos e mandamos a vida a merda enquanto ela se debate no chão.
Porem Fellini,com jovens,musica,sorrisos,cumprimentos e alegria,cerca Cabiria de anjos para a ambiguidade final da possivel epifania esperançosa nas lagrimas da prostituta sem-teto.........ou um destino igual ao da Bomba das cavernas.
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