segunda-feira, 10 de setembro de 2012

"Crisântemos Tardios"(1939) - Kenji Mizoguchi




Arrisco dizer que junto com filmes de 1939 como "Stagecoach" e "A Regra do Jogo" ou que ainda seriam lançados nos próximos dois anos como "Rebecca" e "Cidadão Kane","Crisântemos Tardios" é um dos filmes mais influentes do cinema moderno e um dos grandes pioneiros a surgirem nessa virada de década.O ruim é que o cinema oriental ainda tinha pouca visibilidade no Ocidente até "Rashomon" de Kurosawa abrir as portas,e Mizoguchi ser redescoberto por Jacques Rivette na Cahiers du Cinemá.Mesmo que à frente do seu tempo,os trabalhos mais reconhecidos do diretor viriam com "Contos da Lua Vaga"(1953) e "O Intendente Sansho"(1954).Um artista quase que completo,o diretor era perito em teatro Kabuki e Noh e "Crisântemos Tardios" é um dos melhores filmes sobre o teatro.

No século XIX,o jovem ator Kikonosuke se recente de não ter o mesmo talento que seu glorioso pai adotivo.Bajulado  pela fama que tem devido o parentesco,pelas costas ele é ridicularizado pelos amigos e é tido como sem-futuro aos olhos de seu pai.É quando se apaixona pela criada Otoku - franca como ninguêm e disposta a ajudá-lo em seu treinamento.Como sua família se opõe ao namoro,Otoku é demitida e some enquanto Kikonosuke foge de casa em busca de uma reviravolta.É quando ele reencontra Otoku,e juntos partem para uma vida de casado numa trajetória por trupes e hospedarias que dura anos de dificuldades,desavenças e tragédias,com a mulher se mostrando a base estrutural para o sucesso do marido,nunca deixando que o desânimo o abrace na busca pelo aperfeiçoamento de sua arte.

Um conto romântico e sensível,Mizoguchi dá uma liberdade às personagens femininas pouco vista na época,principalmente no Japão.Longe de ser apenas feminista contemporâneo,o fato de a sociedade retratada ser de 1885 mostra que a intenção de Mizoguchi é só situar a mulher no lugar em que ela sempre teve.Tomando as dores femininas para si,o diretor exorcisa fantasmas de sua mente,da época em que quando criança seu pai batia na sua mãe e sua irmã foi vendida para um bordel.Essa defesa do papel feminino exaltado em todas as eras é uma recorrente de sua filmografia e um dos motivos temáticos principais de sua influencia.

Tecnicamente  é que Mizoguchi se mostra um puta contador de histórias.De forma visionária ele usa ostensivamente de long-shots que,longe de serem exclusivamente estáticos ou contemplativos,usam e abusam de movimentos de câmera e tracking-shots onde os personagens coreograficamente percorrem os cenários e interagem numa construção de mise-en-scéne absolutamente emocional e realista.Planos abertos ressaltam uma fotografia sterbergiana com lâmpadas cuidadosamente distribuídas iluminando expressivamente o cenário.O modo como Mizoguchi filma as cenas do teatro são de uma reverência que ultrapassa o ego do diretor chegando até nós.É essa mise-en-scène que tridimensionaliza os personagens,superlativizando o tocante final que alegoriza com a flor do crisântemo que  morre no final do outono com o triunfo da primavera.
Um filme pra quem subestima a máxima de que por trás de todo o grande homem existe uma mulher.Um filme para quem ama ou já amou,e acredita na dedicação e no triunfo através desta.Talvez o maior dos filmes de amor.Talvez um poema.

Tracking-shot de Mizoguchi mostrando o primeiro encontro do casal protagonista:



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