domingo, 2 de setembro de 2012

"O Dia em que a Terra Parou"(1951) - Robert Wise



Robert Wise não se importava intelectualmente com o quanto os  seus filmes poderiam representar de acordo com uma visão de mundo particular sua.A ligação dele com o filme era primordialmente estética.O seu domínio estava muito mais ligado com a edição e os recursos plásticos,que convergiam para o tema contextual do filme que lhe era imposto a dirigir.O que se pode chamar de versatilidade habilidosa.Um homem de diferentes gêneros,extraindo de cada um sua expressão artística mais latente.Trabalhando nos diversos componentes do esqueleto fílmico de mestres como Ford e Welles - de edição de som à montagem - ,sua experiencia lhe deu a capacidade de exprimir de si mesmo a linguagem pura do cinema independente da mensagem a ser emitida.Robert Wise foi um grande inspirador dos cineastas da New Hollywood,que buscaram percorrer pelos diferentes gêneros clássicos do cinema,sem se esquecer da honestidade estilística de cada um.

O que impressiona é  o contexto histórico.Situado em plena Guerra Fria e um pouco mais de 5 anos após o fim da Segunda Guerra e o surgimento da ONU,uma mensagem anti-atômica vindo do espaço substituiu os monstros perigosos e ou guerras de naves espaciais da ficção cientifica mais popular até então,abrindo as portas para uma abordagem mais metaforicamente politica,servindo às exigências intelectuais de uma humanidade muito mais realística e prestes a esbravejar contra o caos da modernidade.Situado num mundo que se apresentava como um tabuleiro de xadrez entre duas ideologias,com a coragem de revelar sutilmente o quão desprezível e ridícula são tais domínios ideológicos diante de uma realidade superior.
É ai que entra a genialidade do roteirista Edmund H. North em fazer uma analogia do extraterrestre Klaatu - cuja aparência humana também muda a face da ficção cientifica,nos aproximando do que é desconhecido de nós mesmos - ,com Jesus Cristo,dentro da subliminaridade da mensagem pacífica e de alerta,da condenação,da morte e da ressurreição.

O modo abrangente de Wise arranjar o artefato fílmico no conjunto de todas as partes vai desde o sons da nave espacial até o modo como Bernard Herrman usa o teremin(por sinal um dos primeiros instrumentos eletrônicos),ou a direção de arte embasbacante do interior da nave, só fazem se sobrepor àquele ufanismo recorrente de filmes americanos do pós-guerra em se colocarem como estereótipos da eficiência,não só distantes do resto do mundo em sua prepotência,mas se vendo sempre como se fossem somente eles os olhos do mundo.Ufanismo que irritantemente percorre as entrelinhas da visita de Klaatu ao american way of life desestruturado,ou de um país que não perde o orgulho nem no meio do pavor.O que é perigoso num filme com semelhante mensagem e caminha bambeamente na linha da propaganda ideológica do capitalismo mascarada num discurso anti-bélico.Mas a paranoia que a obra representa é muito sincera,e é esse medo sincero no mundo da ameaça atômica que faz com o que o intuito principal da mensagem do filme seja atingido acima de qualquer facção,dentro da aparência de um episodio bem produzido do "Twilight Zone".


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