sábado, 8 de outubro de 2011

A injustiçada Marnie


Como disse Truffaut essa é a obra-prima doente de hitchcock,não só Truffaut mas Rohmer,Bogdanovich,Chabrol,Robin Wood reconheciam a magnitude de um filme que buscava ao mesmo tempo que fechar a parceria de Hitchcock com seus maiores colaboradores,ser uma especie de depositorio de todas as perturbações psicologicas que ele sempre demonstrou apreço em suas obras anteriores,principalmente a figura da mãe.

A cena inicial apresentando a protagonista com a camera partindo da bolsa dela ja é por si só ao mesmo tempo que sutil,genial.Um filme que de começo ja percebi que ia ser meio barroco,com o technicolor gritante ajudando no meu ponto de vista.Ela é uma ladra morena,lava o cabelo,levanta a cabeça e entra a musica de Hermann,que está na minha cabeça até agora,uma musica que remete ao tema de "Laura" por exemplo,melodramatica e muito pouco comum com os outros trabalhos do compositor(em suas passagens romanticas), mas mesmo assim grandiloquente.
Um dos roteiros mais genias de um filme de Hitchcock por ilustrar a jornada de um personagem para dentro de sua propria mente(nao por vontade propria ,mas conduzida)a procura de uma resposta.
Uma resposta para o que?
Quando a personagem visita a casa da mãe em pouco tempo percebemos que ,pra quem conhece o trabalho de Freud e Jung,estaremos induzidos por Hitchcock numa analise psicologica de personagem atraves de ferramentas estilisticas e uma sofisticação que faz esquecer o exagerado "Spellbound".
O vermelho,o efeito,a trilha ,o extase....
Ela encontra a criança da qual a mãe é babá e demonstra um ciume absolutamente cruel,a mãe realmente demonstra apreço maior pela criança do que por ela: "Mãe ,porque você nunca me amou?" pergunta Marnie seguido da impossibilidade do toque,depois de palavras rispidas o toque surge,mas na figura de um violento tapa no rosto,as amendoas caem no chão,maestria cenica e de atuação.Afinal a torta não era pra ela.
O roteiro é tão brilhante que ao mesmo tempo que aborda as questões profundas que objetiva expor atraves da camera,ainda nos brinda com uma cena tensa atras da outra e ainda que não tensa,ao menos perturbadora.Ate mesmo quando marnie fica observando como o processo de abertura do cofre funciona com o excelente macete da gaveta,a camera nos diz "Vocês são ladrões tambem,vcs vão roubar com ela!"
Antes da cena do roubo seu relacionamento com Mark nos intriga ,assim como personagens estranhos que a reconhecem do nada,e o ciume da irmã da falecida esposa de Mark.
A cena do esperado roubo é uma das maiores de Hitch e começa na cabine do toilett com ela esperando as colegas sairem e por fim o reino do aterrorrizante silencio;Hitchcock silencia tudo para que presenciamos o roube ser executado ao mesmo tempo que a camera se posiciona num plano aberto num dos maiores exmplos de uma das suas taticas mais conhecidas:a do telespectador como testemunha do perigo que nem o protagonista pde ver,assistam essa cena e comprovem.

Quando Mark "captura" Marnie,casa com ela abaixo de chantagem e a leva para um cruzeiro começa a parte doente e pertubadora do filme.Ele quer realmente ser seu psicanalista,chega a ler livros sobre o assunto,e descobre uma aversão de Marnie pelos homens,terceira dica pro nosso bloquinho de analise...um casamneto que não parece dar certo e muita selvageria sexual por parte de Mark e frigidez por parte de Marnie:a mãe e o sexo.
De volta a casa uma cena absolutamente sencacional se desenrola numa caçada comm Marnie correndo do vermelho e o acidente cm o cavalo seguido do sacrificio,que absurdo de execução de Hitch.Quando a camera sobe num belissimo plano aberto de Marnie correndo a toda a velocidade com o cavalo é um extase.Outra cena que eu acho fantastica é quando o casal de repente começa a fazer associação de palavras com ela primeiramente esnobando a capacidade de psicologo de Mark e de repente ele grita e aponta o dedo "Vermelho!" e ela começa a chorar desesperada...Tomasini se despedindo com louvor e mostrando que sua edição salva até os dialogos mais pobres,quem tem visão de artista sabe...
Quando na tentativa de seu ultimo roubo vemos a tentativa dela de não colocar as mãos no dinheiro e sendo vencida pela força estamos presenciando o primeiro retrato de uma cleptomaniaca no cinema.
E no epilogo o que eu tenho a dizer é que o papel da mãe e todos os temas decorrentes da relação do arquetipo da mãe-mente perturbada do filho,vistos e revistos por Hitch alcançam sua resina artistica.Grande interpretação de Hedren e de Louise Latham,um duelo incrivel,uma revelação e o grand finale pra obra-prima mais subestimada de Hitchcock




Um filme absolutamente injustiçado parece ser a versão feminina de "Vertigo" ja que assim como no filme com James stewart a primeira metade da narrativa não passa de um macguffin ela inteira para chamar a atenção de forma surpreendente na segunda parte daquilo que o diretor realmente queria mostrar,o estudo de uma mente perturbada.Assim como ele fez em psicose por exemplo.E tem quem fale mal do roteiro....

Sexo,psicologia,crime.estilo,musica,som,furia,silencio....o que tem de errado com esse filme?Comparar com outras obra-primas e não analisar ela por si mesmo?Não compreender o que um autor tem a dizer?Falar mal dos efeitos e cenarios datados que remetem ao expressionismo alemão como se fosse digno reclamar de um estilo-referencia de um auteur?

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