sábado, 8 de outubro de 2011

O Sheik Branco de Fellini - "Abismo de um Sonho"

Não sei quanto a vcs mas a mistura de sonho e realidade permeia qualquer um que tenha começado a ler cedo,a se aventurar nas ruas cedo,a compreender a arte cedo...
Esse é o primeiro filme de Fellini dirigido integralmente por ele,me encantou sobremaneira o talento que ele ja demonstrava ter ,o talento de um auteur,de alguem que nasceu pra isso...Seu trabalho como roteirista no neo-realismo lhe deu a convivencia necessaria para desenvolver as ferramentas do dicionario cinematografico que ele evoluiria mais tarde.
Uma comedia primeiramente,com o talentosissimo,inacreditavel Leopoldo Triestre com sua cara de panico inimitavel explorada por Copolla em "The Godfather 2".As situações criadas em torno dele são de dar gargalhada.Me assustei com os primeiros 10 minutos de filme que aparentava um certo amadorismo com o casal chegando de trem na Roma pos-guerra onde nada ainda era glamour,mas acho que era porque eu tava ajorjado da maconha;porem a medida que a o rosto da esposa se mostrava intrigante e suspeito como se ela quisesse algo urgente ali em Roma,a narrativa me deixou deveras intrigado.

Interessante dizer que os titulos inicias mostravam algo oriental com véus voando contra o vento;o titulo original do filme parecia remeter a um filme das mil e uma noites.Mas a historia de um casal que se separa depois da fuga da mulher pra conhecer o astro das fotonovelas ,o sheik branco,se converte em duas ramificações: as aventuras da mulher com a troupe de artistas que acompanham o sheik,uma tentativa do sheik de comer ela depois de fumar algo que parecia um baseado(acredite!),e bom vou parar com spoilers.Mas Fellini é descrição de cenas,como o primeiro encontro dela com o sheik e sua longa conversação que mistura na genese do estilo felliniano a realidade com fantasia na persona de um idolo como Allen fez em "A rosa purpura do cairo",ela encontra um sheik num balanço no galho mais alto da arvore,ele leva ela pra passear e pra ver como a vida é dura como o sonho tambem pode ser...uma das frases mais pungentes de um filme de fellini dita pela protagonista chorando depois de suas aventuras "Sim a verdadeira vida é a vida dos sonhos,mas as vezes o sonho é um abismo!",pungente no contexto de um filme que ja dizia coisa que muitos filme não diziam na epoca 
O modo como os personagens surgem coreograficamente na frente da camera, o modo como Fellini usa essa sua tatica para o humor,os movimentos que ela dá, a caracterização forte do personagem mais banal,é foda...
pela primeira vez surge Giulieta Massina como Cabiria, e o mais impressionante pra mim foi ver que Fellini parecia saber que faria "Noites de Cabiria" anos depois,pois o personagem surge breve mas forte e engraçado,trazendo a tão rara magia cinematografica à época,na figura de um cuspidor de fogo...prostitutas e artistas numa roma decadente e mesmo assim o sonho parece exaltar a realidade ,a vida.
Vou repetir,vcs devem assisitr e comprovar,Leopoldo Triestre é dono de um terço do filme....agora o outro terço vai pra Nino Rota,o cara é Deus.Acho que no inicio da decada de 50 essa sua maneira de espelhar de forma psicologica a intenção do diretor só era comparavel com o Bernard do Hitch.Tem uma variação  do mambo usadao em "8 1/2"(na verdade a variaçãoestá em "81/2" que é posterior) mas de repente quando é necessario o suspense ele rege soturnamente,quando surge o melodrama ele rege ternamente.Nino Rota foi genio...sua trilha sempre descamba para o lado mais ludico divertido e safado da arte na vida e da vida na arte.Fellini om sue humor,com seus devaneios e com seu humanismo.
A cena em que eles mostram os bastidores da fotonovela é sensacional,a influencia dos quadrinhos e dos seu passado como cartoonista é fluente no cinema de Fellini,primeiramente no seu começo usado em prol da reflexão corriqueira para posteriormente nos seus filmes pos-"La Dolce Vita" serem usados para reflexões e designs mais profundos porem simples na sua significação da arte e do homem(ou seja,de todos nós)e enfim revolucionar uma das faces da multifacetada linguagem cinematografia e suas diversas personalidades que a utilizam.
E por fim "Vamos pessoal ,apertem o passo!" e seus personagens marcham pela primeira vez ao ritmo de Rota como se fossem personagens de uma apresentação circense.Um filme pra se assistir descalço no carpete tomando caipirinha.Finis

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