quinta-feira, 6 de setembro de 2012

"Rastros de Ódio"(1956) - John Ford


 
  


John Wayne nunca passou tanto ódio como em "Rastros de Ódio".Absolutamente assustador.
O seu olhar penetrante de mágoa e desespero assassino coloca Ethan Edwards como um dos personagens mais perigosos do cinema.Uma pessoa isolada em si mesma,simbolicamente um ponto no meio do deserto,quase que numa simbiose de deserto espiritual com o deserto natural do Monument Valley.
Vindo da Guerra Civil,ele tem que se defrontar com a morte de seu irmão,de sua cunhada(o amor da vida de Ethan),de seus sobrinhos,e do rapto da sobrinha caçula Debbie pelos indios.Durante os cinco anos seguintes Ethan e o jovem Martin(irmão de criação com sangue indígena de Debbie),percorrem paisagens em busca da garota.O instinto preconceituoso que corrói o coração de Ethan o coloca na indecisão de salvar Debbie ou matá-la,visto que já se tornado india não seria mais sua família.Os raios de psicose que os olhos de Wayne lança ao matar desesperadamente os búfalos,ou quando vê a casa de seus familiares em chamas é o espelho da alma carregada de mágoa do protagonista,em que cada frase é ríspida e cada movimento inconsequente.E Ford era isso,ele era a paisagem e o homem solitário deslocado num novo mundo.E é justamente por ter controle total sobre a alma de Ethan e sobre a alma do deserto,que sua câmera se move poéticamente,para que unicamente através da sugestão percebamos os motivos do rancor de Ethan e a reação dos personagens que o cercam.São os conflitos dele com o mestiço Martin que mostram o quanto de humano ele ainda guarda em si,com toda a exaltação fordinana do bem surgido através da amizade e do companheirismo.

Lutas,namoros,momentos cômicos,demonstrações de bravura,"Rastros de Ódio" é para Ford o que "Intriga Internacional" foi para Hitchcock,uma síntese de todos as suas marcas registradas exploradas ao máximo.O modo simbiótico do psicológico/ambiente exalavam dele,sem qualquer pretensão senão honestidade.Ford era um cara que pegava um quadro e pintava sem fazer muito esforço para descobrir o que tinha que pintar.O seu estilo e o seu modo de pensar a solidão do homem estavam já inseridos em sua consciência. "Rastros de Ódio" é odisséia final do homem que busca ou não a redenção,sabendo que jamais seu coração estará aberto novamente,restando apenas ele e o deserto.

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