quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"Vinhas da Ira"(1940) - John Ford



"Vinhas da Ira" é - acima de tudo - John Steinbeck.O escritor viveu com os fazendeiros do êxodo da Depressão,sentiu na pele o pão que o diabo amassou e lançou suas experiencias em forma de um romance em 1939,contando a história da família Joad que perde sua fazenda devido à crise e viaja rumo à Califórnia.O filme começa com Tom Joad retornando da cadeia e se deparando com famílias sendo despejadas de suas terras,inclusive a sua.Num ambiente ameaçador,ele encontra a sua propriedade abandonada,e nos relatos de seu vizinho Mulley fica sabendo de como os moradores foram despejados sem piedade.Encontrando a sua família na casa do tio Joe,todos se reúnem numa caminhonete lotada de bagagens e esperança rumo às laranjas da Califórnia.

O filme é um road movie onde todas a trajetória serve de espelho para uma realidade demolidora e assustadoramente cruel.A câmera de Ford,junto com o mestre da fotografia Gregg Tolland,inusitadamente toma uma atitude social diante de uma denúncia quase que jornalística em seu realismo.Os acampamentos-favela onde crianças buscam o que comer em qualquer lixo;as oportunidades de trabalho escravo onde a greve é um risco de vida;a vida dos avós da família Joad por um triz num redemoinho de decadência e busca por um fiapo de dignidade,o egoísmo capitalista que não poupa velhos nem crianças;a fortaleza genuinamente matrona de Ma Joad(interpretado com uma ânsia feminina dilacerante por Jane Darwell).
 Ford era o povo americano,acima de qualquer intenção.O Tom Joad de Fonda é aquele que aprende com o caminho e busca o refúgio que for,a atitude certeira para achar o caminho correto para que as famílias não sofram o que a dele sofreu,o que ele deixa bem claro no discurso final.O nascimento de mais um comunista,um ser humano desesperado pela fome e pela exploração,o que é raro vindo do conservador Ford é visto como produto da indignação.
Henry Fonda foi um dos melhores de sua época,seu olhar seco e sua atitude silenciosa é a de um verdadeiro cadeeiro,que se torna um herói num semi-realismo americano dentro do storytelling fordiano.

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